quinta-feira, 9 de julho de 2015

Esta agressividade, que é nossa...

[Deixo-vos uma reflexão escrita para a rúbrica "Com sentido" do Jornal "Notícias de Cá e de Lá".]

Tortura, violência, humilhação... tem surgido de tudo um pouco ultimamente, em casos isolados, repetidos sadicamente e até à exaustão pela comunicação social. Notícias, que passam muito rapidamente para a versão “telenovelas”, deixam no ar uma sentimento de indignação, raiva e medo. O foco está colocado em duas jovens aqui, um jovem ali, um polícia acolá. A mim, assusta-me mais as milhares de pessoas que acorrem às portas dos tribunais e às redes sociais insultar, ameaçar em tons de violência por vezes até superiores aos actos que condenam! Preocupa-me que se tratem humanos como coisas e que se consiga conviver “pacificamente” com o sofrimento alheio (por vezes na porta da frente) mas que se reaja a acontecimentos a quilómetros de distância, como se nos tivessem acontecido a nós, só porque os vimos na televisão ou nas redes sociais. A forma como determinados criminosos agem, diz muito deles. A forma como nós reagimos a isso, diz muito mais de nós.

O melhor de tudo isto, é termos à nossa frente uma grande oportunidade para olhar, reflectir e tentar perceber o que é que afinal se está a passar connosco colectiva, mas também individualmente. Tanta evolução parece afastar-nos dos tempos “negros” da Humanidade em que pouco mais parecíamos ser, que bichos. No entanto, aqui estamos nós, confrontados mais uma vez com a realidade de que por mais "verniz" que se coloque, quando este estala, o que fica à vista de todos, é tudo menos bonito. 

A história da Humanidade mostra bem do que somos capazes de fazer pelo bem e pelo mal. Evolução? Parece-me a mim que nos agarramos a uma agressividade muito nossa, a impulsos de destruição que continuam cá bem guardados. Veja-se a forma como cuidamos deste planeta, que não é senão a nossa própria “casa”. Não faz mal destruir, agredir, ameaçar de morte, insultar, roubar, desde que se creia ter uma "justificação" ou se acredite ficar impune. Só isto explica que pessoas “comuns” entrem num armazém e se apropriem de bens alheios com a descontracção de quem vai ao supermercado. 

Ao contrário do que queremos acreditar, não parece haver um trabalho real de evolução saudável da Humanidade, que nos permita canalizar a nossa agressividade natural de forma construtiva para a criação, para a iniciativa, para a capacidade de transformar e mudar a realidade à nossa volta para melhor. 

E isso é triste para todos nós.

Publicado originalmente no Jornal "Notícias de Cá e de Lá" nº 32, 30 de Junho de 2015.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Estou-lhe muito grata. Saiba que a sua participação acrescenta valor a este blog.