sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"Socorro, a escola dos meus pais vai começar!"



A propósito do início das aulas, vou deixar aqui uma citação. Apenas para podermos reflectir acerca de algumas coisas... Se for do vosso interesse, posso depois alongar-me um pouco mais acerca desta questão.

No seu livro "A Criança Explicada Aos Pais - Segundo Dolto", Jean-Claude Liaudet (psicólogo e psicanalista) a propósito da escola refere:
"É uma escola-tipo para uma criança-tipo que não existe. O ritmo pessoal da criança, as suas motivações para aprender, ligadas à sua história afectiva singular, não são nem tidas em conta nem respeitadas.
Uma inadaptação escolar não é pois inquietante em si. Isso significa as mais das vezes que a escola não está adaptada à criança, e que se trata de lhe encontrar situações mais favoráveis para se desenvolver intelectualmente. (...)
Françoise Dolto muito cedo notou o caso de crianças profundamente inadaptadas, irrecuperáveis aos olhos dos docentes. A guerra de 1939-1945 salvou mais do que uma dessas situações interrompendo-lhes a escola. Ela cita o exemplo duma criança refugiada no campo e que o professor primário duma classe única aceita acolher, sem lhe exigir nenhum trabalho escolar, tendo o teste de inteligência de Binet-Simon diagnosticado um atraso mental importante. A criança não ia à escola senão quando queria, divertindo-se a fazer como os pequeninos quando lhe apetecia, a responder às perguntas da secção dos meios quando lhe dava no goto. Em três anos ela tinha atingido um nível normal sem que alguém se ocupasse dela.
Françoise Dolto cita igualmente o caso duma criança que não podia mais frequentar a sua classe. Ela toma a iniciativa de a fazer viver no campo longe de qualquer escola, onde ela depressa desaprende o pouco que sabia. Ao fim de um ano, a caseira encarrega-se de a ensinar a ler, à razão de uma meia hora por dia... Em três anos, ela recuperou o nível da sua classe de origem. mais tarde, terminou o secundário, depois veio a ser veterinário.
Foi porque os pouparam à pedagogia escolar que estas crianças consideradas irrecuperáveis puderam aprender."(Liaudet, 2000, p.133)

Não pretendo condenar a escola (sem direito a julgamento) e fingir que não nos trouxe tanto do bom que temos. Esta questão, para mim, não é linear. Fica apenas no ar o facto de que a escolarização tal como é vivida nos dias de hoje, não é necessariamente a melhor. Mas também acho, que para já, é a que existe e devemos saber reconhecer e agradecer o que nos dá.

Agora a grande questão para mim é - Não estão a sentir no ar a tensão crescer com o início das aulas? - E não estamos a falar de tensão nas crianças. Estamos a falar de tensão nos pais. Como se fossem os pais a voltar para a escola (uma escola que tantas vezes foi terrível para eles).

Porque é que isso acontece? Que dimensão é esta que a escola ganha na vida da família? No primeiro dia de escola, os nossos filhos carregam já com eles esta sensação, este peso das expectativas (suas, mas principalmente as dos pais), estes deveres e obrigações de sucesso, de fazer igual ou melhor que o ano passado, etc.

Será que, por vezes, não nos baralhamos um pouco e nos deixamos invadir pela sensação de que o sucesso ou insucesso escolar dos nossos filhos, nos define como pais? De que o seu sucesso ou insucesso é também o nosso sucesso ou insucesso?

Respiremos fundo e libertemos os nossos filhos de tanto, mas tanto, que é nosso!

Abraço apertado aos meninos pais e boa escola!

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